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O Manto da Invisibilidade Social

Jorge Linhaça

Ao longo dos anos, em parte por conta da pressa constante que temos, em parte por causa dos problemas que essa pressa  gera em nossas mentes, ou ainda por conta dos medos reforçados pelos noticiários de constante violência, temos criado uma nova sociedade: a sociedade dos invisíveis.
Não só não vemos realmente as pessoas ao nosso redor como, por muitas vezes, nos recobrimos com um pseudo manto de invisibilidade e torcemos para que passemos despercebidos em meio à multidão.
Claro que nos desviamos de outras pessoas, como se nos desviássemos de um poste ou qualquer outro obstáculo.
Utilizamos os elevadores de nossos prédios os dos locais de trabalho e permanecemos mudos, no máximo balbuciando o andar para onde nos dirigimos.
Passamos dias, meses, anos, encontrando as mesmas pessoas nesses elevadores e sequer sabemos os seus nomes.
Vamos a postos de gasolinas de nossa preferência e sequer prestamos atenção no rosto do frentista, nos limitamos a, assustadamente e apressadamente dizer: Coloca aí 20 reais, 50 reais...completa o tanque. Pagamos em dinheiro e vamos embora, ou entregamos o cartão de crédito e ficamos dentro do carro ansiosos para sair logo dali.
Saímos como entramos, sequer um obrigado no mais das vezes.
Se andamos de ônibus, galgamos os degraus do mesmo e sequer olhamos para o rosto do motorista, a não ser que precisemos de alguma informação. Passamos pelo cobrador ( trocador ) como se ele fosse um robô sem vida própria.
É verdade que na maioria dos ônibus existe o aviso " Não converse com o motorista"
o que obviamente não significa " Não de Bom dia ao motorista"
Volta e meia vamos ao mercado, pegamos o que precisamos, dirigimos-nos aos caixas e nos limitamos apenas a tirar nosso dinheiro ou cartão das carteiras e pagar, como se aquela pessoa que esta ali a nos atender fosse indigna de um pequeno diálogo qualquer.
Salas de espera de médicos, dentistas, veterinários ou qualquer coisa semelhante, são hoje ambientes pra lá se sufocantes. As pessoas se ocupam de olhar para a TV quando ela existe, ou folhear velhas revistas deixadas sobre a mesa de centro. Agimos como se o fato de conversarmos com a pessoa ao lado fosse piorar a nossa situação.
Volta e meia, as pessoas, já tão acostumadas a esse manto de invisibilidade, parecem assustadas se alguém inicia um diálogo com elas. Outras vezes retribuem com um sorriso ,como se de repente descobrissem que estão realmente ali.
Para saber até que ponto estamos contaminados por esse vírus da invisibilidade social, podemos nos fazer algumas poucas perguntas:
Qual o nome do motorista do ônibus que pego todos os dias ?
E o do cobrador?
E o frentista do posto?
Qual o nome do ascensorista de meu prédio?
E do pessoal da faxina?
Costumo dar " Bom dia, Boa tarde, Boa noite a quem me atende em qualquer tipo de comércio?

Sabemos o nome de nossos prestadores de serviço ou são apenas " o carteiro"; " o boy"; o "motoboy" ; "o rapaz da pizza"; "a menina do caixa" etc?
Não preciso sem citar a fundo os exemplos mais clássicos de invisibilidade:
Lixeiros, garis, mendigos, catadores de material reciclado( badameiros em alguns lugares) peões de obra etc.
Posso lhes dizer que essa invisibilidade não é privilégio dos grandes centros, no interior isso está se tornando cada vez mais comum.
Pensando nisso, confesso que nem sei o nome do meu carteiro...falo com ele, conversamos sobre frivolidades, mas não tenho a mínima idéia de qual seja o seu nome.
Pode até ser que ele não se sinta invisível quando passa aqui em casa, mas por certo que chamá-lo pelo nome seria muito mais educado e o tornaria uma pessoa ao invés de uma função.
Enfim, preciso fazer também a minha parte para ao menos diminuir esse manto de invisibilidade que recobre o nosso dia-a-dia.
Quem vem comigo ??
Abraços fraternos
Jorge Linhaça
Publicado no Recanto das Letras em 26/02/2010
Código do texto: T2109284

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Os afazeres domésticos contam
RESUMO

Este artigo tem como objetivo propor uma mensuração para as atividades realizadas pelas pessoas no interior dos lares, as quais têm enorme importância na reprodução da vida e no bemestar da sociedade. Estes serviços gerados na execução dos afazeres domésticos, por não estarem associados a uma geração equivalente de renda, são ignorados pela teoria econômica que não os valora e não contabiliza no Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Uma provável interpretação para este não reconhecimento origina-se na histórica discriminação sofrida pelas mulheres nas diversas sociedades, a quem foi delegada a execução dos afazeres domésticos. A teoria econômica, tal como foi formulada por clássicos, marxistas e neoclássicos, não consegue aplicar seus pressupostos para explicar a condição feminina na nossa sociedade. Os clássicos e marxistas não os consideram porque não possuem valor de troca, e os neoclássicos atribuem o exercício destas tarefas a uma escolha, em que sua utilidade iguala-se ao seu custo marginal em um mercado virtual de trabalho que está sempre em equilíbrio. Mas estas são relações que se dão no campo psicossocial, sem imputação de valores monetários. Entretanto, a própria teoria econômica não procede de forma análoga no que diz respeito ao serviço de moradia imputado aos imóveis de uso próprio. Eles são valorados e incluídos no PIB. Essa discriminação contra os afazeres domésticos não parece ser unicamente uma discriminação contra o trabalho, comparativamente ao procedimento com o capital representado nas moradias. Ele diz respeito fundamentalmente aos hábitos e costumes da sociedade e ao papel feminino, a quem tradicionalmente foi atribuído o exercício desta atividade. Desconhecê-los reforça o conceito de papel da mulher na sociedade. Tendo por base os procedimentos usuais de estimativas de bens ou serviços não
mensurados por estatísticas econômicas, e utilizando-se de estatísticas demográficas e sociais originárias da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que desde 2001 investiga o tempo gasto na execução de tarefas domésticas, chega-se à conclusão de que, no Brasil, estes afazeres correspondem a em média, a 11,2% dos PIB's brasileiros do período 2001-2005.

Segue abaixo o link para leitura na integra do trabalho acima:
http://www.uff.br/econ/download/tds/UFF_TD177.pdf

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A DESIGUALDADE E A INVISIBILIDADE SOCIAL NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA.


O objetivo central deste artigo é analisar a desigualdade social e, consequentemente, a invisibilidade social. Estes temas centrais na constituição da identidade do povo brasileiro serão analisados a partir de uma interlocução entre a Sociologia e a Psicologia desenvolvidas por Jessé Souza e Fernando Braga da Costa, respectivamente. Estes dois autores apontam em suas obras a desigualdade social como um fenômeno constituinte da sociedade brasileira. Jessé Souza também critica a visão de autores da sociologia clássica quanto o surgimento da desigualdade na história da colonização do Brasil. Para evitar o reducionismo, os autores buscam compreender a invisibilidade social a partir de uma investigação aprofundada do tema da desigualdade e para isso, dialogam com diversas perspectivas ao darem conta de temas eminentemente históricos nesta sociedade.

Confira o conteúdo completo no link: http://www.cult.ufba.br/enecult2009/19360.pdf


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INVISIBILIDADE SOCIAL E A CULTURA DO CONSUMO
Juliana Porto 

O conceito de Invisibilidade Social tem sido aplicado, em geral, quando se refere a seres socialmente invisíveis, seja pela indiferença, seja pelo preconceito, o que nos leva a compreender que tal fenômeno atinge tão somente aqueles que estão a margem da sociedade. De fato, são essas as maiores vítimas da Invisibilidade Social, mas neste artigo me proponho a estabelecer uma breve reflexão sobre suas causas e os motivos que permitem sua permanência, evitando fixar-me em
uma análise meramente “fenomenológica” e subjetiva da questão.
Confira o conteúdo completo no link: http://www.dad.puc-rio.br/dad07/arquivos_downloads/43.pdf

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Invisibilidade Social

sáb, fev 20, 2010
“Durante um ano passando naqueles corredores ainda não sei o nome daquele senhor responsável pela limpeza, talvez porque nunca o olhei, passou ‘despercebido’, aquele ser ‘invisível’”. (Ayslan Pedrosa)
Quantas vezes ao irmos ao supermercado, ao trabalho, a faculdade, passamos por pessoas encarregadas da limpeza ou segurança e nem ao menos os cumprimentamos? Porque os excluímos?
A invisibilidade social é uma forma de preconceito debatida por antropólogos, psicólogos e profissionais da área jurídica como uma forma de exclusão social. Entretanto não se trata de um tema novo, as exclusões sociais acompanham a sociedade desde o surgimento das primeiras civilizações, sejam por fatores culturais ou econômicos. Ao ignorarmos a presença do “outro” sugerimos a estes, a aceitação da condição de “ninguém”.
Para a antropóloga Martine Xiberras, “excluídas são todas as pessoas que não participam dos mercados de bens materiais ou culturais”. Esse comportamento tornou-se corriqueiro no nosso cotidiano, aliás, nem o percebemos quando praticamos.
Segundo o psiquiatra Laing, “não podemos fazer o relato fiel de uma pessoa sem falar do seu relacionamento com os outros. A identidade é definida pela relação do indivíduo com os que estão à sua volta, em seu convívio. É na relação entre o EU e o OUTRO que se constrói a identidade do EU”.
Naturalmente a invisibilidade social provoca sentimentos de desprezo. De acordo com Gachet, ser invisível pode levar as pessoas a processos depressivos. “‘Aparecer’ é ser importante para a espécie humana, ser valorizado de alguma forma é parte integrante de nossa passagem pela vida, temos que ser alguém, um bom profissional, um bom estudante, um bom pai, uma boa mãe, enfim, desempenhar com louvor algum papel social”, diz.
Portanto, não aceitemos esse tipo de violência, um simples “oi” pode mudar o dia daquela pessoa, ignorá-las seria o mesmo de apagá-las, uma forma de homicídio silencioso àqueles que estão à margem da sociedade.
O objetivo dessa reflexão é mostrar a realidade não como um conjunto de mistérios que nos determinam, mas como uma série de ocorrências que podemos analisar, criticar, alterar, acolher ou rejeitar. Se for fundamental possuirmos dados sobre a realidade, mas fundamental ainda é saber o que fazer com eles. Essa é a diferença entre o conhecimento e a sabedoria.
Ayslan Oliveira Pedrosa

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II SEMINÁRIO NACIONAL
Gênero e Práticas Culturais.
Culturas, Leituras e Representações

GÊNERO E INVISIBILIDADE SOCIAL ENTRE CATADORES DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS DE CAMPINA GRANDE/PB
 
Introdução
Vivemos numa sociedade dividida, estratificada. A cada dia se exacerbam mais as diferenças entre os grupos que detém o poder e aqueles que estão à margem, despossuídos dos meios para fazer frente a esse processo. Criam-se deliberadamente parâmetros para delinear quem são os sujeitos reconhecidos e os que não o são. Como estamos falando de uma sociedade capitalista, as regras básicas do reconhecimento
giram em torno de aspectos financeiros, do lucro, do consumo. Aqueles que não conseguem se inserir na lógica do capital e, conseqüentemente, não conseguem atender aos apelos que circundam a ótica consumista por ele imposta, serão entes socialmente invisíveis.
Há ainda outra perspectiva para se pensar esse processo de invisibilidade que diz respeito à falta de reconhecimento social, aquilo que nos torna visíveis perante a sociedade . É importante para a espécie humana se sentir valorizada e parte integrante do meio em que vive (GACHET, 2009).Assim, fica evidente a necessidade que temos de ser vistos e reconhecidos, ou seja, nossa condição social também depende de como somos avaliados, se somos aceitos ou não. Não ser visível, portanto, gera sentimentos
de desprezo e humilhação para aqueles que convivem com esse tipo de execração.
Uma categoria em especial se vê contundentemente perpassada por esse processo de invisibilização social, tanto na ótica atrelada ao consumo, quanto no que se refere ao reconhecimento social: os/as catadores/as de materiais recicláveis. Este segmento social, com histórico de grave exclusão social, tem crescido bastante nos últimos 50 anos encontrando na atividade de coleta de materiais a única alternativa para
sua sobrevivência e de suas famílias. Sua atividade, no entanto, não tem o reconhecimento social, uma vez que é marcada por estigmas e se dá no nível da informalidade. No que se refere aos estigmas da atividade de catação, os mais evidentes são a associação do/a catador/a com o próprio lixo, aqueles/as que sobrevivem das sobras, além da noção deturpada de considerá-lo/a pessoas perigosas que devem ser
mantidos/as à distância. O fato do trabalho de catação se dar na esfera informal, sem qualquer mecanismo de profissionalização, ajuda a manter esses mitos no imaginário social.
Todos esses aspectos contribuem para que os/as catadores/as se tornem socialmente invisíveis, sejam desagregados da sua condição de gente, pessoa humana, e projetados unicamente em função do trabalho que realizam. Há, no entanto, outro aspecto que agrava essa condição, associado à categoria gênero, ou seja, o fato de ter a atividade de catação como meio de vida e de ser mulher. Acreditamos que devido a todo um processo de divisão sexual do trabalho e de estabelecimento de funções próprias ao sexo
feminino, haja uma intensificação das dificuldades no exercício da catação para as mulheres.
Dessa forma, o presente artigo pretende vislumbrar de que forma e até que ponto o fato de ser mulher acentua os obstáculos impostos pela atividade de catação em si, intensificando a invisibilidade da mulher catadora, ou seja, procura elucidar a maneira como a invisibilidade social se apresenta entre as mulheres catadoras e a forma como é afetada pelo gênero. Para tanto, traçamos uma comparação entre o desenvolvimento da atividade de catação para homens e mulheres, identificando os significados atribuídos à
atividade de catação por parte dos/as catadores/as, além de analisarmos os reflexos da divisão sexual do trabalho na atividade de catação e na realização das tarefas domésticas.

Leia o arquivo na íntegra através do link: http://itaporanga.net/genero/gt5/1.pdf

 

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